Quem forma uma banda, seja de rock, reggae, axé ou black metal, quer crescer. Digo mais, quer ter seu trabalho reconhecido e, obviamente, sonha em um dia tocar com seus ídolos. Parece meio utópico, até porque relativamente poucas conseguem isso tudo, mas é possível acontecer.
Está sendo assim com a Take Off The Halter! Formada há alguns meses na capital paulista, a banda tem agradado tanto aos mais novos, quanto aos mais velhos e teve — merecidamente — boas oportunidades, como a de abrir os shows de No Fun At All e NOFX. E eles não param de colher frutos, que devem se multiplicar agora com o lançamento, de forma independente, do EP We Took Off.
De forma rejuvenescedora o TOTH pega o hardcore e dá um gás com muita técnica e melodia, como não se via há um bom tempo. Aliás, há muito não se via uma banda que fosse quase como uma unanimidade, e por isso fui conversar com os guitarristas Fernando e Danilo conhecer um pouco da história deles e saber um pouco mais sobre o TOTH. Então aos desconfiados uma dica, abram os olhos para: prestar atenção nesses jovens e ler esta entrevista, oras!
Vamos sortear um EP We Took Off, saiba como no final da entrevista,
Entrevista: Fernando e Danilo (Take Off The Halter)
por Ricardo Tibiu
Fotos: Marina Melchers (www.flickr.com/theclubhousekid) e Gustavo Flauzino (www.flickr.com/gustavoflauzino)
O TOTH foi formado em 2009, né? Antes disso vocês tiveram outras bandas?
Fernando: Exato. Durante as gravações do EP éramos apenas eu, o Victor e o Rafael. Ainda sem baterista, convidamos o Carioca (Aditive, Presto?, Medellin) para participar das gravações. Logo depois percebemos a necessidade de um novo guitarrista fixo e também de um baterista, que vestissem a camisa da banda. Encontrei o Danilo e o Cauê, guitarrista e baterista, respectivamente. Já tocamos juntos em outras bandas, como a Flick, de época de escola, que era um rock mais adolescente, a Defna, com um estilo mais pop, tipo Paramore, e uma outra, cover de Metallica.
Danilo: Antes do TOTH eu tinha essa banda que fazia cover de Metallica com o Cauê, o irmão dele e mais um amigo nosso de infância. Depois montei uma outra com uma menina no vocal… Mas acho que a banda mais importante antes do TOTH foi a Flick, com o Fernando, o Victor e o Rafael, porque com ela eles ganharam uma promoção na Nickelodeon e venderam o prêmio para pagar parte da gravação do TOTH!

TOTH - foto: Gustavo Flauzino
Numa conversa com o Danilo (guitarrista), ele me disse que tudo tá acontecendo rápido com vocês. Como é tocar em shows lotados com bandas internacionais que são referência como foi com o No Fun At All e o NOFX e outros bem menores, com a estrutura e público completamente diferentes?
Fernando: Realmente, tudo aconteceu rápido demais. Sempre paramos pra pensar, que em cinco meses de banda, já conseguimos tocar com nomes renomados, que eu escuto desde os 12 anos. Tocar em eventos mais grandiosos é bacana, porque sempre rola uma infra-estrutura forte, bons equipos e tudo mais. Já os shows menores não deixam a desejar, a galera sempre canta junto, fica bem próxima e curte o show!
Danilo: Então como havia conversado com você, Tibiu, realmente tá acontecendo tudo muito rápido, e nós não estávamos esperando todo esse retorno tão imediato. Certamente estamos tentando fazer tudo sem ter algum tipo de problema. Sobre os shows, é bastante complicado, por nossa falta de experiência abrir um show grande em um palco grande, aonde você não sabe nem por onde andar é uma puta responsabilidade e um grande desafio. Muitos comentam sobre nossa presença de palco não ser das melhores, mas estamos tentando melhorar (risos). Quanto aos shows menores, eles são os melhores… Você está tocando seu som e na sua frente estão a pessoas que curtem sua banda, seus amigos cantando os sons, isso não tem preço. A energia é bem melhor do que estar aquele palco imenso que você não sabe nem o que fazer (risos).
Aliás, na abertura do NOFX algumas pessoas deveriam ter tirado seus “tapa-olhos” e prestado mais atenção em vocês. Mas, enfim, o nome da banda e o do EP se complementam e vocês vão ter que explicar isso mil vezes. Que tal fazerem isso agora? (risos).
Fernando: Sim, as atitudes de algumas pessoas foram um pouco desagradáveis e blábláblá! O nome da banda é um tipo de expressão para que as pessoas “abram os olhos” e vejam o que realmente está acontecendo com o mundo. Muitas pessoas não fazem questão de “retirar o cabresto” para ver que tudo está desmoronando ao nosso redor!
Danilo: Como disse antes, abrir um show grande, de uma banda como o NOFX é um puta desafio e responsabilidade. Some isso com nossos cinco meses de banda = fudeu! Mas acontece e acho que aconteceria com qualquer banda que tocasse ali antes do NOFX. O que pode ter acontecido foi nossa falta de experiência pra levar isso da melhor maneira possível, mas faz parte do aprendizado. Muita gente que conhecia o TOTH não conseguiu entrar a tempo para nos ver, isso foi a única coisa que eu achei ruim.
Entendi…
Danilo: Sobre o nome da banda, “tire o cabresto”, para quem não sabe cabresto é aquele lance que colocam nos cavalos e derivados para tampar a visão deles e impedir que olhem para os lados… Acho que é isso (risos)… Pode ter vários significados, tanto esse que o Fernando citou, sobre o que está acontecendo no planeta, quanto também pode ser voltado à banda, pra galera voltar os olhos e ver que tem muita banda nova fazendo um som de responsa sem muitas cores…

TOTH - foto: Marina Melchers
Eu vi que ao vivo vocês tocam Heffer, uma banda que assim como vocês fazia um hardcore em inglês com muita melodia e técnica. Em termos de bandas nacionais eles são a maior referência para vocês? E como as pessoas têm reagido a esse cover e quais outros vocês têm tocado?
Fernando: Com certeza, eles são a maior referência nacional, além de outras também. Na maioria dos shows, o pessoal grita “toca Reffer” e sempre acabamos tocando. A gente percebe que a galera curte bastante! Tocamos também alguns covers como Belvedere, A Wilhelm Scream, No Fun At All e NOFX, bandas que curtimos bastante!
Danilo: Então, o Reffer é nossa grande influência nacional, eles faziam uma linha de som que a gente está fazendo, que é o hardcore cantado em inglês. Mas temos outras influências nacionais também, não só no hardcore, mas em outros estilos também. Pô, tocar cover é sempre legal, a gente cansou de se reunir antes do show e falar que ia fazer só um cover e chegar na hora e tocar mais, mas a gente curte.
Quais são as principais influências do TOTH?
Fernando: As influências são muitas, mas as principais são Belvedere, Reffer, A Wilhelm Scream, Pennywise, Metallica, Propagandhi e Austrian Death Machine.
Danilo: Tudo isso que o Fernando falou e Metallica antigo! (risos).
Porque vocês decidiram cantar em inglês e sobre o quê são as letras?
Fernando: Escolhemos cantar em inglês porque a língua portuguesa ser pouco aceita no exterior. As letras retratam bem o que o nome da banda representa “o que está acontecendo com o mundo?”, são fatos que fazem as pessoas pensarem sobre o tema e não só falar sobre coisas fúteis do nosso cotidiano.
Danilo: Então, creio eu que uma das coisas que influenciaram ser em inglês é porque em português ficou meio estranho, ficou meio que cantar pagode em francês, manja? (risos). Em inglês ficaram mais legais e soaram melhor!
Faz um faixa a faixa aí Danilo! (risos)
Danilo: Então vamos por som:
Gas Chamber fala sobre o aquecimento global em geral; Seconds a letra é tipo uma discussão, logo, foi feita para os emos que curtem a banda (risos). Injection é sobre execução, com aquela injeçãozinha do mal; The Parable Of Paul Tadpole fala sobre “bullying”; Man Down sobre guerra; We Took Off sobre a manipulação da TV e Cloistered, som novo, fala sobre falsas amizades.
Aproveitando, quem é (ou foi) o Paul Tadpole?
Fernando: Então, ele é um cara que era da nossa sala na escola, que era vítima do chamado “bullying”.
Danilo: Paulo Girino. Foi um moleque que estudou com os outros caras da banda e sofria com o “bullying”, onde o agressor era, principalmente, o Victor!

TOTH - foto: Marina Melchers
Há muito tempo eu não via surgir uma banda como o TOTH, que fosse quase que como uma unanimidade, ou seja, agradou bastante o pessoal mais velho e também a nova geração. A quê vocês acham que se deve isso?
Fernando: É muito bom saber que todo o trabalho de ter composto as músicas, gravado e ensaiado muito, esteja sendo reconhecido. Acho que público mais velho também está curtido devido às nossas influências, que são bem presentes no som!
Danilo: Cara, a gente tá surpreso cada dia mais como a galera curtiu e aceita nosso som. Todos comentam isso com a gente, que a “velharada” já pegou a gente pra criar e a o pessoal mais novo também curte a gente pra caramba. Tanto é que a gente se assustou no show do No Fun At All vendo a galera cantando nossos sons… Foi foda! Acho que isso se deve, principalmente, ao Fernando, ao Victor e ao Rafael, que resolveram montar a banda e compor todas as músicas nessa pegada, fazendo o contrário da maioria das bandas atuais.

TOTH - foto: Marina Melchers
A indústria fonográfica está numa crise sem tamanho e, ainda assim, heroicamente e diferente da atual tendência de lançamento virtual, o EP de vocês acaba de sair de forma independente em formato físico. Queria saber o motivo do lançamento assim… Havia uma cobrança do público por um material assim?
Fernando: Realmente está cada vez mais escasso esse lance da galera comprar CD físico. De uns anos pra cá a internet foi capaz de fazer as pessoas terem os CDs completos, sem custo algum. Lançamos o EP fisicamente pra quem curte mesmo ter um material da banda, com uma arte legal e tudo mais, e não apenas um arquivo no computador. A galera pedia, mas também é uma realização pessoal nossa.
Danilo: Realmente eu mesmo não sou muito de comprar mais CDs pelo fator grana, mas ultimamente nos nossos shows tenho comprado alguns CDs quando estão em um preço justo. Desde o começo sempre houve um interesse da galera, sempre perguntavam se o EP ia sair fisicamente, e aí surgiu uma oportunidade legal para nós e decidimos fazer. Ficou lindo demais, nem acreditei quando me deparei com ele.
Inevitavelmente o EP vai parar na internet e as pessoas vão baixar gratuitamente. O quê vocês pensam sobre isso, a quanto o EP está sendo vendido e como tem sido a resposta?
Fernando: Sob meu ponto de vista a internet foi o melhor meio de divulgação já inventado. Mas existe o ponto negativo, que foi a queda na venda de CDs. Mas quem curte de verdade a banda, compra, tanto para ajudar, quanto para ter o material físico! Essa é a primeira semana que estamos com os EPs físicos e já conseguimos vender cerca de 50 cópias e também algumas camisetas da banda. O EP está sendo vendido a R$ 6 e as camisetas a R$ 20.
Danilo: Se não fosse a internet não teríamos nem 10% do pouco que temos hoje em dia. Sem dúvida é o melhor meio de divulgação que uma banda pode ter. Esse lance de baixar de graça, a meu ver, é bom pra caramba. Mas para uma banda de uma gravadora grande, que depende dos CDs pra ganhar grana, é foda. A gente fez o EP fisico pra ser vendido pro pessoal que curte a gente e, pode ter certeza, que vale à pena. O pessoal que gosta faz questão de comprar!
O Hóspede (Dead Fish, Aditive, Chorume, Medellin) foi o responsável pela gravação e produção do EP. Porque o escolheram e como foi trabalhar com ele?
Fernando: Nós já o conhecíamos há um tempo, ele ia gravar uma antiga banda nossa. Depois começamos a compor os sons do TOTH e mostramos pra ele, que se interessou e produziu a gente em estúdio. Curtimos demais o resultado de outros trabalhos dele, e, certamente, isso foi decisivo. Obtivemos um resultado final muito bom na gravação do EP. As gravações duraram cerca de um mês, durante o segundo semestre de 2009, no Norcal Estúdio, em São Paulo.
Danilo: Não sobrou nada pra eu falar! (risos).
Se fosse seguir a lógica dos anos 90, vocês estariam em trilhas de skate, vídeos de surf e tal. Vocês têm alguma relação com esses esportes e/ou gostariam de participar desse tipo de lançamento?
Fernando: Eu particularmente gosto muito de skate, andava quando era um pouco mais novo, hoje tento, mas sabe como é, né?! A maioria do pessoal da banda já andava de skate, mas só por diversão. Com certeza se houvesse a oportunidade de participar de algo do gênero seria “totalmente excelente”, como diria Paulo Bonfá.
Danilo: Resumindo o que o Fernando disse, eu, ele e o Victor somos pessoas frustradas por não sabermos andar bem de skate (risos). Pô, se rolasse a oportunidade de ter nossa música em trilha sonora ia ser uma das coisas mais fodas que poderiam acontecer, já que não podemos sonhar que nossas músicas toquem um dia numa rádio (risos). Mas seria um sonho jogar um dia um skate no 360 escutando nosso som!

TOTH - foto: Gustavo Flauzino
O hardcore melódico parece estar voltando com força total, lá fora um dos grandes responsáveis por essa volta é o A Wilhelm Scream e por aqui vocês são um dos mais apontados/comentados. Servir de “referência” mais ajuda ou acaba atrapalhando?
Fernando: O fato do hardcore melódico estar voltando é muito bom. Em meio a essa massa de cores, é muito bom ver que estamos fazendo a diferença e colaborando com a volta de uma cena que esteve escondida e morta há sete anos. Acredito nisso. Portanto, ajuda sim. É bacana poder servir de referência e ajudar a levantar a moral do hardcore nacional, que foi perdendo o foco ao longo dos tempos, com esse modismo todo. Espero que esses shows que estão rolando despertem novas bandas, e que essa cena seja reconstituída.
Danilo: “Need Color? Don’t ask us how!”, seguindo o tema do nosso show em São Caetano no Back to Hardcore dia 17/04 (risos). É muito bom ver que nós e outras bandas estamos ajudando com toda força para a volta da cena hardcore nacional e servindo como referência para novas bandas. Tomara que dê certo e que os coloridos quando fizerem 15 anos comecem a ir nos shows de hardcore, só depende deles agora pra cena voltar… Bandas não faltam, às vezes o que falta é oportunidade para todos. Nesses poucos shows que já fizemos conhecemos bandas fodas que acabaram virando nossos parceiros e acho que daqui um tempo teremos sim a cena de volta, pelo menos parte dela (risos). Sobre os comentários ruins, nós não temos nem o que falar: se Deus não agradou a todos porque nós agradaríamos? Normal (risos). As críticas mais ajudam que atrapalham. Cheguei à conclusão nesses últimos tempos…
Pra terminar, quais são os próximos planos do TOTH?
Fernando: Os próximos passos são continuar a divulgar a banda pelo Brasil e no exterior também. Enquanto isso, estamos preparando músicas novas para a gravação do nosso primeiro álbum, com previsão de lançamento neste ano ainda.
Danilo: Divulgar o som ao máximo, tocar em todos os shows possíveis e impossíveis. Estamos compondo novas músicas já pra gravar o CD, mas não tem muito segredo não. O lance agora é tocar o máximo que puder!

TOTH - foto: Marina Melchers
Contatos:
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www.myspace.com/takeoffthehalter
www.fotolog.com.br/takeoffthehalter
www.twitter.com/tothardcore

TOTH - foto: Marina Melchers
Seguindo os padrões da odeio promoção no Twitter (que ainda tá rolando), temos um EP We Took Off, do Take Off The Halter, para sortear aqui.
Para participar deixe um comentário dizendo o que achou da entrevista e quem seria o Paul Tadpole mais bem sucedido da atualidade, uma comissão julgadora formada por macacos especialistas altamente capacitados irá analisar todas sugestões e (acho que) daqui uma semana o resultado será dado!